“Pedro, quer conversar comigo?”
Ele ri. É domingo de manhã e acabamos de sentar para tomar o café. Ele sabe que o meu próximo exercício da comunidade da escrita é “escrever a partir de uma conversa”, e eu estou sem ideias. É a segunda vez que faço essa pergunta para ele no final de semana.
“Você sabe que essa conversa provavelmente seria melhor se fosse espontânea, né?”, ele diz, enquanto descasca uma banana e coloca no prato. É claro que eu sei. Mas ignoro. “Me conta como foi sua noite. Você dormiu bem?”, pergunto, insistindo.
“Dormi. Acordei sozinho às seis e meia da manhã. Na verdade, eu sonhei que estava com vontade de fazer xixi, aí acordei e fui para o banheiro. Você continuava dormindo quando voltei para o quarto, então decidi deitar de novo. Te rolei pro lado pra fazer uma conchinha, mas pouco tempo depois você virou e eu fiquei meio chateado. Passa a canela, por favor?”
Levanto para buscar o potinho de canela e dou risada. Lembro vagamente de acordar com a orelha dormente no travesseiro e precisar mudar de posição. Ficamos alguns momentos no silêncio confortável, comendo nossas frutas.
“Você devia ligar para o meu pai”, diz Pedro. “Eu sei, já pensei nisso algumas vezes”, respondo. Meu sogro é bom de papo e quase sempre tem um causo para contar. “Mas a conversa não precisa ser sobre uma grande história, sabe. Também pode ser um exercício para enxergar as coisas bonitas do dia a dia.” Percebo que ele já terminou de comer a banana com canela. “Pega os ovos pra gente?”
Pedro se levanta e dá a volta na bancada de madeira da cozinha. Mas em vez de ir para o fogão e pegar a frigideira com ovos mexidos, ele para ao meu lado e me dá um abraço bem apertado. Ficamos assim, juntos, de pijama e descabelados, por um minuto ou dois. Existe muita beleza no cotidiano. E eu percebo que naqueles cinco minutos de conversa estava o texto que eu buscava.
O que tem nessa marinada
O texto é de 2023, mas poderia ter sido escrito hoje. Semana passada fez onze anos do nosso primeiro beijo, então dedico essa edição para a pessoa que mais acredita que eu sou uma escritora de verdade. Obrigada por tudo!
Até a próxima!
Marinando é o meu olhar traduzido em crônicas e mini contos leves e descontraídos sobre a beleza do cotidiano.
Quinzenalmente, nos domingos às 9h.
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Escrito por Marina Cyrino Leonel
Sim, existe muita beleza no cotidiano, na real, acho que são esses momentos que fazem eu me sentir realmente feliz... vocês são uns fofos, príncipe e princesa da Disney❤️ amo vcs
Eu amo esse texto , amo muito