— It just takes some time, you're in the little of the mind…
O certo é “MIDLE OF THE RIDE”, não “LITTLE OF THE MIND”. Mas não o corrijo. Todo mundo tem alguma habilidade meio inútil. A minha é decorar letras de músicas sem esforço. A do Pedro é inventar palavras aleatórias para substituir as letras que ele é incapaz de decorar.
— Por que eu tô com essa música na cabeça? Everything will be alright, alright… — Ele cantarola enquanto leva os pratos sujos para a pia.
— Porque eu passei as últimas três horas editando um vídeo para o Instagram com essa música — respondo.
Abro o aplicativo de edição no celular e confiro meu progresso. Ainda faltam algumas legendas. Será que consigo terminar antes de dormir?
— Ela é legal — diz Pedro, guardando o restante do arroz na geladeira. — Qual o nome da banda?
— “Jimmy Eat World” — respondo, ajustando as caixas da legenda no vídeo. — Eles têm uma outra música famosa. Toca no final do filme “A Nova Cinderela”, sabe?
— Não. Acho que não.
Levanto os olhos do celular.
— Você nunca assistiu “A Nova Cinderela”?
— Assisti, assisti — Pedro ergue as sobrancelhas, reagindo à minha cara de doida. — Mas faz muito tempo. Não lembro da cena, nem da música.
— Então a gente vai resolver isso agora.
Fecho o aplicativo de edição de vídeo e faço uma busca rápida no Google para descobrir qual streaming abriga essa joia da minha adolescência. Ligo a televisão da sala e adianto o filme até o final. Tudo pronto para o play.
Ué, cadê ele?
Ouço o barulho de alguém escovando os dentes.
— PEDRO VOLTA AQUI!
Ele surge do banheiro arrastando os pés. Escova na boca.
— Presta atenção. Tá prestando atenção? Vou contextualizar.
Ele para ao meu lado e balança a cabeça, sem interromper a escovação. Schueck, schueck, schueck.
— A Hilary Duff acabou de dar o pé na bunda do Chad Michael Murray. Invadiu o vestiário masculino e falou que cansou de esperar por ele, tendeu? Porque ela é forte, independente, maravilhosa. Tanto que decide ficar na escola pra assistir a final do jogo de futebol americano.
— Ah, lembdei. O moshinho queria she jogador e o pai não deshava, né? — Ele fala entre a espuma.
— Não. O contrário. O pai queria que ele fosse jogador profissional, mas ele queria ir pra faculdade. — Ergo o controle para a TV e dou o play. — Agora a Hilary Duff tá lá na arquibancada, viu? Mas o jogo começa e ela logo percebe que é difícil segurar essa barra que é gostar do Chad Michael Murray.
— Hum. — Pedro cruza os braços, segurando a escova nos dentes.
— Então ela desiste, a pobrezinha. Decide ir embora. Aí, adivinha o que acontece. Olha lá. — Aponto para a TV com uma mão e, com a outra, dou uma série de tapinhas no braço do Pedro. — Olha lá, olha lá! O Chad vê a Hilary Duff indo embora do meio do campo. Seu coração aperta. Agora ele precisa decidir… Será o jogo ou a Cinderela?
Pedro olha para mim de canto de olho. Continuo:
— HILARY DUFF, É LÓGICO! Ele abandona o campo, mas o pai tenta impedir. “Está jogando fora o seu sonho”? “Não, pai. O seu sonho” — repito junto com os personagens, levando a mão ao peito. Também sou ótima em decorar falas de filmes.
Acompanhamos o Chad Michael Murray correr pelo gramado e vencer as escadarias da arquibancada. Ele intercepta a Hilary Duff. A toma em seus braços. Vem o beijo apaixonado. A música do “Jimmy Eat World” atinge o volume máximo.
— Espera aí, espera aí — puxo a manga do moletom do Pedro. — Vai ficar melhor.
Começa a chover.
Absolute cinema.
É nesse momento que o Pedro vai para o banheiro. Schueck, schueck, schueck. Ele termina de escovar os dentes, volta para a sala e senta ao meu lado no sofá. O filme finaliza com o casal dirigindo o mustang conversível azul pelas montanhas californianas, rumo à faculdade. Créditos sobem e eu descubro que ainda sei cantar uma música da Hilary Duff que eu nem lembrava que existia. Essa habilidade realmente deveria servir para alguma coisa.
— E aí, amor? Gostou? — Pergunto.
Pedro comprime a boca em um meio sorriso.
— É… Não se fazem mais filmes como antes.
Marinada
Coisas legais dos últimos 15 dias
🍿 Filmes
A Nova Cinderela está disponível no Max. A saber: a música do filme se chama “Hear You Me”. De nada.
Lilo & Stitch. Sim, sim, simmm! Finalmente, Disney! É isso que o povo quer. Na minha opinião, esse é o melhor live-action desde A Bela e a Fera. O filme se mantém fiel à animação (nas falas, cenas, trejeitos dos personagens) e, ao mesmo tempo, traz alterações que só agregam à história original. O final me surpreendeu. É diferente do desenho — e é incrível! Já assistiu por aí?
📚 Livros
O Hobbit. Continuo aqui, gente. Li pouquíssimo nas duas últimas semanas. Mas não tem problema — é mais tempo para ficar na Terra Média.
Engravidei. Ri, chorei e me emocionei demais lendo o livro da
. Toda vez que ela escreve sobre maternidade sinto como se espiasse pelo cantinho da janela um futuro que ainda viverei. Acompanhar o livro dessa amiga escritora da ideia até o exemplar físico foi uma das coisas mais especiais do meu ano até agora.
🌻 Aleatoriedades
Voltei a trabalhar no romance e o Forest passou a ser o meu melhor amigo mais uma vez. Esse é o aplicativo de bloqueio de celular mais eficaz que já encontrei.
Passei uma tarde deliciosa fazendo minhas próprias velas com uma amiga. Aprendi que o pavio de madeira, além de durar mais, queima fazendo barulhinho de lareira.
Tirei a foto lá de cima na exposição do Andy Warhol, que está rolando em São Paulo até o dia 30/06. Tem mais de 600 obras do artista, incluindo a icônica Marilyn Monroe e as Latas de Sopa Campbell. Ingressos a partir de 35 reais.
Meus projetos literários
Clay
Estou levando o Clay para as escolas! Preparei um arquivo super completo sobre as conexões do livro com a prática pedagógica e sugestões de atividades complementares. Trabalha com educação e ficou interessado? Me chama pelo Substack ou no e-mail marinando@substack.com. Estou mais do que disponível para os leitores da minha newsletter!
Fiz um tour pelas livrarias de São Paulo e deixei vários exemplares autografados por aí. Em muitas delas dei de cara com o Clay na prateleira de destaques, como nessa foto aí de cima, na Livraria Martins Fontes. Que emoção, amigos! Postei um vídeo bem legal sobre essa turnê no Instagram — com a música que originou o texto de hoje. :)
Caiu nessa newsletter pela primeira vez? Clica aqui para conhecer o meu livro infantil sobre profissões, vocações e a coragem de ser quem você é.
Meu romance
Seguinte. Nos últimos dias tenho sentido a fagulha de uma nova ideia pairando na cabeça. Ainda preciso elaborar, mas estou pensando em compartilhar todo o processo de criação desse livro: desde detalhes da escrita (construção de personagens, enredo, estrutura, descrições) até a busca por agentes/editoras e estratégias de divulgação. Algo do tipo: “estou escrevendo um romance pela primeira vez, vamos juntos nessa”? O que acham? Me contem se acharem interessante!
Notícias boas
Tem mais uma entrevista vindo aí! Fui convidada pelo Jornal Folk para falar sobre a trajetória de publicação do Clay. Em breve compartilho a matéria por aqui.
Mais do Substack:
O
falou sobre a beleza por trás das fotos impressas. Que saudades, gente.Amooo ler os causos da
. Já derrubei o celular no vaso sanitário e ri de nervoso com esse texto aqui.A criança interior “guarda o nosso ‘eu’ mais puro, a nossa essência”. Escrevi sobre isso no Clay. A
escreveu sobre isso nessa edição.Achei lindo ver a
pelos olhos dos filhos dela.Admiro demais quem escreve poesia. Mesmo. Não é a minha praia. Mas é total a da Gabrielle Albuquerque.
Até a próxima!
Marinando é o meu olhar traduzido em crônicas e mini contos leves e descontraídos sobre a beleza do cotidiano.
Quinzenalmente, aos domingos às 9h.
Chegou pela primeira vez? Se inscreva para receber a próxima edição :)
Animadíssima para acompanhar todo o processo do romance! E admito que não assisti o filme, mas eu era aquelas adolescentes esquisitas que não gostavam de romance haha
Eu acho que nunca vi esse filme (emoji escondendo a cara). Eu quero que você compartilhe o processo de escrita do romance.
beijo